Depois de quase dois meses de exposição aberta ao público e centenas de visitantes recebidos, a mostra Catarse de Devoção encerrou sua visitação na Galeria Benedito Nunes. O evento de finissage, realizado na última terça-feira (28), contou com a presença da fotógrafa e documentarista Paula Sampaio para o bate-papo “Documentação Fotográfica - Experiências Afetivas e Desafios Éticos” e de Célio Duarte, monitor e graduando em Museologia, que mediou o encontro. O projeto foi contemplado com o Prêmio Branco de Melo 2023.

Em um mundo repleto de imagens, no qual a câmera nos acompanha diariamente como parte integrante dos nossos celulares, as artistas debateram sobre o lugar da narrativa documental. "Eu estou sentindo a necessidade de degustar o processo e ter menos do imediatismo", declarou Paula Giordano.
"Independente das possibilidades que você tem. Você precisa ter afeto pelo seu trabalho", disse Paula Sampaio que também constrói suas narrativas a partir da relação com o outro.
Em Catarse de Devoção, Paula Giordano apresentou ao público um recorte da sua pesquisa sobre a corda do Círio de Nazaré. O contato com os fotografados foi mantido mesmo em situações atípicas, no que ela refletiu que “todos os anos foram especiais, até os anos de pandemia, porque eu pude me aproximar mais. As pessoas foram às ruas também".
A narrativa imagética é uma forma de contar histórias e construir memórias. Ao escolher temáticas como o sacrifício da fé no Círio, no caso de Giordano, e o lago sem vida da barragem de Tucuruí, no caso de Sampaio, as artistas lançam luz sobre aquilo que viveram e desejam compartilhar com o outro. "Eu nunca vou me esquecer dos barulhos das ondas que batiam em Tucuruí. Aquilo era um discurso. A natureza fala", lembrou Paula Sampaio.
Para além do digital, seja em exposições na parede de galerias ou entregue nas mãos dos fotografados, a fotografia pede pela sua materialização. "Nós somos humanos. Nós temos matéria. Nós precisamos das coisas físicas. E a memória precisa se materializar", contou Paula Sampaio que se dedica à salvaguarda e releitura de seu arquivo que vem se perdendo.
Com uma produção imagética sem pretendentes, nos acostumamos a dispor de muitas oportunidades e diminuímos a atenção do olhar apurado. Isso dá espaço a novas tecnologias construírem suas próprias imagens derivadas de outras, como é o caso da Inteligência Artificial. Mas em meio a tanta produção digital ainda há espaço para o físico, porque é ele quem permite materializarmos uma memória.
Temas como ética e cuidado também foram debatidos quando se analisou o poder da fotografia em impactar vidas. Assim, viver o processo sem urgência foi uma das reflexões que ficou aos presentes. "Eu sou otimista a tentativas. Porque tem uma hora que você acerta", finalizou Paula Sampaio.
*Texto: Debb Cabral/ASCOM
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